
TEMPO E AROMA
Tenho uma ampulheta sobre a torre de meu micro.
De vez em quando, ponho a areia pra escorrer.
(Gosto do tempo. O que nele me incomoda é sua impiedosa paisagem. Acaba por denunciar, em sua passagem, o que não fizemos e deveríamos ter dito. Por isso, acho, evitamos vê-lo passar. Ocupamo-nos de um monte de coisas a fim de preenchê-lo e, desse modo, ludibriá-lo).
A ampulheta, ganhei-a de presente.
Recebi-a de inesperadas mãos, junto com um livro sobre história do Brasil.
Terminei de ler o livro. Muito bom. Bem escrito, parece um romance, com lances que nos amarram ao capítulo seguinte. Relógio de areia e livro de história. Ambos os presentes relacionados com o tempo.
Também dei um presente a ela. Espero que tenha agradado.
Um perfume.
Entrei na loja e disse à vendedora:
“Negra, entre 30 e 40 anos, linda e elegante; um riso que, quando se expande, comove montanhas”.
A moça me fez provar inúmeras fragrâncias. Escolhi uma que me despertava lembranças; que, passando na rua, a reconhecesse.
Quando entreguei o perfume, fiquei sem jeito.
Ela me dá um presente que nunca acaba: estende-se através do tempo, imperecível – um jeito de nunca esquecê-la.
Já o meu... é volátil – como a memória.
15/01/2004 - EV um grande amigo e camarada ...
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